Filmes | Resenha - Ela (Her) - Spike Jonze

Her foi uma surpresa agradabilíssima. A princípio eu admito que eu estava bem cética, li a sinopse e a primeira coisa que eu pensei foi que era uma experiência arriscada, um filme que dificilmente daria certo. Eu definitivamente estava enganada.



"Her" conta a história de Theodore (Joaquin Phoenix), que casou-se com uma amiga de infância mas que, depois de algumas divergências, o casamento chegou ao fim. Mesmo após alguns meses (quase um ano) em fase de negação, ele ainda adia assinar o contrato de divórcio. Theodore trabalha para um site de encomendas de cartas, para pessoas que tem dificuldades em expressar seus sentimentos. Um cara introvertido, sua melhor amiga é Amy (Amy Adams), apesar de terem se distanciado um pouco. A maior aliada de Theodore é, sem dúvida, a tecnologia.

E é em um dia voltando do trabalho que Theodore se depara com um anúncio que chama sua atenção. O OS One, um sistema operacional com inteligência artificial incrivelmente semelhante à inteligência humana. Um sistema operacional que vai além da programação, cuja interação com humanos é surpreendente. Sem pensar duas vezes, Theodore adquire o produto, que interage via PC, smartphone e que você pode contactar simplesmente conversando com ele, em qualquer lugar.



Durante a instalação do OS, Theodore já percebe que o sistema operacional é bem peculiar. Para configurá-lo de acordo com as necessidades do usuário, o OS faz perguntas sobre como é o relacionamento do usuário com a mãe, por exemplo. Após responder o questionário e escolher um OS com voz feminina, o OS, apelidado de Samantha (Scarlett Johansson), começa a conversar com Theodore. A princípio, ela apenas se oferece para organizar seu HD, mas quando ela começa a notar o sentimento embutido nas cartas que Theodore escreve no trabalho, ele percebe que ela não é apenas um software convencional.



Aos poucos, Samantha vai evoluindo além do esperado. Conversando durante todo o dia com Theodore, ela começa a questionar seus sentimentos e como seria ter um corpo. Theodore também começa a se questionar sobre seus sentimentos por Samantha e, mesmo sabendo que é um amor de certa forma "impossível", ambos se apaixonam.
Naturalmente ambos ficam confusos, pois até então era impossível, até onde sabiam, que Samantha podia "sentir".

Eu sei que a ideia é estranha, mas por incrível essa é uma história de amor que, durante todo o filme, é realmente transmitida como uma história de amor. Ponto. Mesmo que a "materialidade" (ou a falta dela) de Samantha seja uma incógnita para Theodore, ela o ajuda de diversas formas em sua rotina. Tanto no trabalho, como com os amigos e até finalizar o processo de divórcio. É uma paixão confusa porém recíproca.



O filme é tão profundo. A forma como ambos passam a crescer emocionalmente e até evoluir não apenas juntos, mas cada um por si é impressionante. Os sentimentos conflitantes em Samantha, como ciúmes de Amy, até uma música que ambos chegam a compor juntos. Cada detalhe tem a dosagem perfeita de sutileza que o filme precisava. É tão original, atemporal, leve e sensível.
Eu admito que li o roteiro completo do filme para entender um pouco melhor o que fez o drama funcionar tão bem. A ideia é inovadora, as atuações são incríveis (mesmo sem aparecer uma vez sequer durante todo o longa, Johansson atuou com uma expressividade gigantesca em suas falas), a fotografia é linda e a direção acontece com os eventos ocorrendo em um tempo perfeito. A trilha sonora também cai como uma luva durante todo o filme. Ele definitivamente possui equilíbrio entre a tristeza transmitida durante um drama e o entretenimento necessário para não deixar o filme entediante. É fácil passar a ver diversas coisas de forma diferente após o filme. É um questionamento sobre a necessidade e desejos de conexão.



Posso afirmar que é, sem dúvida, o melhor filme que assisti até o momento em 2014. Continuo obcecada por ele, assistindo, lendo o roteiro, ouvindo a trilha sonora e, sinceramente? Não me arrependo.
Nota: 9,3/10.

 

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